Resenha: A Viúva

abril 13, 2020


Sinopse: Ao longo dos anos, Jean Taylor deixou de contar muitas coisas sobre o terrível crime que o marido era suspeito de ter cometido. Ela estava muito ocupada sendo a esposa perfeita, permanecendo ao lado do homem com quem casara enquanto convivia com os olhares acusadores e as ameaças anônimas. No entanto, após um acidente cheio de enigmas, o marido está morto, e Jean não precisa mais representar esse papel. Não há mais motivo para ficar calada. As pessoas querem ouvir o que ela tem a dizer, querem saber como era viver com aquele homem. E ela pode contar para eles que havia alguns segredos. Afinal, segredos são a matéria que contamina (ou preserva) todo casamento.


Autor (a): Fiona Barton
Editora: Intrínseca
Páginas: 304
Ano de Publicação: 2017


Jean era muito nova quando virou esposa. Glen não era do tipo romântico, os cortejos se davam principalmente no escuro e Jean queria estar com ele o tempo todo. 

Na época do namoro as escolhas como “não vá a lugares barulhentos" ou "apenas prove" era o jeito que achava para dizer "eu te amo". Ele era de todo modo calado quando o contrariava e Jean apenas não dizia nada para não o magoar e nem o decepcionar. Quando juntaram os trapos não houve pedido de casamento, Glen apenas disse que Jean pertencia a ele e que iriam se casar. Aferida a isto, ela preenchia a vida matrimonial sob seu departamento. Cuidava da casa, cozinhava e trabalhava em um salão de cabeleireiro, seu sonho era ser mãe. Glen era o marido amoroso, provedor, que determinava como ele e Jean deveriam viver, era quem podia ter opinião sobre as "ideias estimulantes".

Quando em 2006 Glen foi acusado e levado a corte suspeito de um crime inimaginável, os jornais inventaram um novo nome para ele: MONSTRO. Jean Taylor viu as estruturas de seu casamento começarem a ruir e com os anos passando sem que nenhuma prova fosse encontrada, a vida do casal seguia constantemente estampada nas primeiras páginas. 

Glen jurava que não tinha feito nada e Jean a todo momento prometia fidelidade e tinha o desejo de acreditar no marido, mas nas últimas semanas, a senhora Taylor nutria uma sensação obscura, não conseguia contar as vezes que passara as noites em claro desejando que Glen estivesse morto e fantasiava sobre o momento em que receberia a ligação de um policial.

“Sra. Taylor”, diria uma voz grave, “lamento muito, mas tenho más notícias.” A ansiedade pelo resto quase me fazia rir. “Sra. Taylor, temo que seu marido tenha falecido em decorrência de um acidente.” Então, eu me via — realmente me via — soluçando e pegando o telefone a fim de ligar para a mãe dele e contar. “Mary, lamento muito. Recebi uma notícia ruim. É sobre Glen. Ele está morto.”
Consigo perceber o choque ao ouvir seus arquejos. Posso sentir sua dor. Sentir a compaixão dos amigos pela minha perda, a família se reunindo ao meu redor. Depois a vibração secreta.
Eu, a viúva de luto. Ah, conta outra.

Agora que estava realmente viúva, a situação não parecia de modo algum real. Jean Taylor se tornara uma pessoa diferente, uma mulher reservada e protetora das memórias do marido acima de tudo. Jean não tinha mais nenhum obstáculo para bloquear quem realmente ela é. Em casamentos sempre existem segredos e destas guardou muitas coisas para si: foi a esposa perfeita com boa casa, ignorou as coisas estranhas que seu bom marido vazia no quarto de cima — os absurdos dele como ela mesma apelidou —, e vendou os olhos para outras sobre o crime ao qual o marido era suspeito e usava para contar a sua versão dos fatos. 

O terceiro dia da caçada a Bella havia terminado, e eles não tinham chegado a lugar algum.
[...] Sparkes tentou não pensar no que estaria acontecendo com Bella Elliot — ou, se quisesse ser sincero, no que já havia acontecido. Ele tinha que encontra-la.

Porém, não havia mais motivo para ficar calada. As pessoas queriam ouvi-la e saber como era viver com aquele homem que Glen havia se tornado, e nem ele poderia mais impedi-la afinal estava morto.  Faria uma cena com os jornalistas, mostraria a verdade e riria de tudo ao final. Era preciso falar o que ele tinha feito e ela contaria tudo o que sabe. Um marido amoroso ou um assassino cruel? Depois de vinte anos, só ela poderia dizer.



MINHA OPINIÃO


Narrado pelas perspectivas de Jean Taylor, a viúva, do detetive Bob Sparks, chefe de investigação, e da repórter Kate Waters, o livro nos leva ao retrato do casamento perfeito, de uma vida domesticada para além da verdadeira caçada ao suspeito que não há condenação e tem sua vida transformada em um verdadeiro inferno.

Dividido em capítulos aleatórios entre passado e presente, as investigações que percorrem quatro anos vão tomando proporções psicológicas monstruosas ao relatar o desaparecimento de uma criança de dois anos, pontuando representações críticas sob os aspectos jurídicos e legais para condução do crime, como também, a obsessão midiática em vender notícia apática a situação. 

É possível pautar que o maior ponto do livro é elevado quando escancara os perigos eminentes em acesso de dados, distribuição livre de pornografia e a acessibilidade de usuários em se instalar na vida de outro mascarado por segundas intenções.

A Viúva é um livro impecável e o tempo que se leva para digerir o conteúdo é grande, e muitos leitores são falhos ao determinar que a leveza no ritmo é entediante. Pelo contrário, a leveza nos traz o frenesi constante para entender o que diabos está acontecendo, qual foi o crime e quem é o louco da história. 

O livro é considerado pela Publisher Weekly como "um romance de estreia excepcional", que ganhou destaque mundial na cobertura do caso Madeleine McCann, a menina inglesa desparecida em Portugal, em 2007.

Super recomendável para quem já leu A garota no trem e Garota exemplar.


You Might Also Like

0 comentários

LEITURA ATUAL

FAVORITO DO MÊS

@GRAZIELLASILVAO