Editora Bilblioteca Azul

Resenha: Fahrenheit 451

abril 18, 2020

Fahrenheit 451Sinopse: O livro descreve um governo totalitário, num futuro incerto, mas próximo, que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura, prevendo que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Tudo é controlado e as pessoas só têm conhecimento dos fatos por aparelhos de TVs instalados em suas casas ou em praças ao ar livre. A leitura deixou de ser meio para aquisição de conhecimento crítico e tornou-se tão instrumental quanto a vida dos cidadãos, suficiente apenas para que saibam ler manuais e operar aparelhos.

Autor (a):
Ray Bradbury
Editora: Biblioteca Azul
Páginas: 215
Ano de Publicação: 2012


Ambientado em um futurístico e ditatório Estados Unidos em que não há grandes aparatos tecnológicos e onde as casas são à prova de fogo, há uma pequena cidade sombria e opressiva em que os bombeiros – considerados agentes de higiene pública – tem como tarefa atear fogo em livros para evitar que as páginas escritas se disseminem e perturbem os cidadãos honestos. As inquietações são sufocas por emoções erradas e por isso, o Governo defende a ideia que os livros atrapalham pensamentos e a felicidade dos cidadãos. 

Se não quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê lhe apenas um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum. Deixe que ele se esqueça de que há uma coisa como a guerra. Se o governo é ineficiente, despótico e avido por impostos, melhor que ele seja tudo isso do que as pessoas se preocuparem com isso. [...] Encha as pessoas com dados incombustíveis, entupa-os com "fatos" que elas se sintam empanzinadas, mas absolutamente "brilhantes" quanto a informações. Assim elas imaginarão que estão pensando, terão uma sensação de movimento sem sair do lugar. E ficarão felizes, porque fatos dessa ordem não mudam.

Guy Montag é um orgulhoso bombeiro cuja profissão é considerada familiar. O homem cresceu vendo seu avô e pai serem bombeiros e defenderem os anseios de justiça aos cidadãos de bem. Hoje, encontra-se casado com Mildred, uma mulher próxima aos quarenta anos e dona de casa aficionada na televisão dos “familiares” – uma espécie de comunicação imersiva com outras pessoas ao mesmo tempo através da TV – que vive a base de pílulas que embalam a sua irrealidade para suportar a solidão. 

Além de aguentar Mildred todos os dias, Montag tem como chefe dos bombeiros o capitão Beatty. Um homem pouco mais de meia idade que desempenha o papel de inquisidor nas diversas denúncias e incinerações de livros que ocorrem sem erro à noite, conforme a programação de expurgo local. 

Durante alguns dias em seu percurso entre trabalho e casa, Montag conhece Clarisse, uma jovem de 17 anos que instila nele o prazer do saber. Todos os dias em medidas homeopáticas Clarisse questiona o bombeiro, também seu vizinho, com perguntas simples envolvendo sempre o porquê das coisas e enfatizando se o mundo em que ele vive o faz feliz e se fora do seu próprio mundo ele consegue enxergar o externo. A jovem então passa a apresentar a Montag os pequenos deleites da vida tais como sentir a chuva, o cheiro da grama, o olhar às estrelas, o andar sem rumo e a necessidade de deixar ir o “como” tudo é.

E o que significa a palavra qualidade? Para mim significa textura. Este livro tem poros. Tem feições. Este livro poderia passar pelo microscópio. Você encontraria vida sob a lâmina, emanando em profusão infinita. Quanto mais poros, quanto mais detalhes de vida fielmente gravados por centímetro quadrado você conseguir captar numa folha de papel, mais "literário" você será. 

Sem perceber, Montag após várias incinerações de livros, passa a se perguntar sobre o fascínio que as páginas podem exercer sobre algumas pessoas quando os bombeiros testemunham uma senhora queimando junto aos livros pois se recusa a abandonar sua casa e seus livros e começa a desafiar a ordem estabelecida pelo prazer de ler. Montag havia não apenas pego um dos livros escondidos como decidido tentar ajudá-la, assim quebrando duas regras das principais proibições. 

Na manhã seguinte, Guy Montag acorda fisicamente doente e percebendo o que tinha feito decide abandonar o emprego. O Capitão Beatty vem procurá-lo e desconfiado das ações de Montag, inicia uma investigação particular. 

Encurralado e farto de não saber nada, ele erroneamente decide revelar para sua esposa um segredo que poderia acabar com ambos: ele tem roubado livros há algum tempo, inclusive a Bíblia, durante as incinerações. 

Agora, a única saída é procurar ajuda junto a Faber, um professor de literatura inglesa aposentado, ao qual decide caminhar lado a lado e derrubar o sistema da ditadura nessa sociedade regrada e não pensante. 




MINHA OPINIÃO


Escrito em 1953, Fahrenheit 451 fatidicamente ou não continua sendo atual e acredito que por várias décadas, se assim exposto e for possível, continuará fazendo seu ótimo trabalho com críticas à uma sociedade beirada e a caminho da robotização pelo consumo excessivo tecnológico e o desprendimento do ensinamento proporcionado pela cultura literária. 

No livro a ordem natural das coisas são invertidas, os bombeiros ateiam fogo não mais apagam, e a sociedade acredita frivolamente que a história que bombeiros apagavam fogos é mentira. A polícia não defende a população, ela existe para matar os maus elementos, ou seja, as pessoas defensoras da leitura e neles estão inclusos professores, religiosos, filósofos e estudiosos importantes que perderam suas funções na sociedade de 1990, mas que decidiram honrar suas profissões lutando pelo direito de pensar. 

A escrita é excelente, clara e objetiva e se mantém no ritmo do início ao fim, o conceito pode parecer um absurdo, mas acredito que não esteja tão distante da nossa realidade. E assim como em 1984 e Admirável Mundo Novo, Ray Bradbury propõe a nós o divisor de águas que o Governo pode levar aos menos intelectuais, aos que não possuem acesso as verdadeiras informações e aos que não possuem o estímulo crítico para compreender a inversão de valores. O constante pavor do silêncio levou a população a manter-se ligada a televisão e o cérebro na programação. 

O livro não segue a estrutura de um livro comum, é dividido em três partes: A lareira e a salamandra, A peneira e a areia e O brilho incendiário. Seu epílogo e posfácio são descrições autorais e um resumo sobre os desfechos que poderiam acontecer com as personagens e algumas modificações entrelaçadas a desabafos sobre como ocorreu a publicação do livro, sua preparação para o teatro e posteriormente ao cinema. 

Das demais curiosidades apresentadas, as personagens principais do enredo levam nomes revolucionários: Montag é o nome de uma empresa fabricante de papel, e Faber, produtora de grafite, ou seja, lápis e papel que escrevem. Algo que estava proibido durante a ditatura de 1990 no romance proposto pelo livro. Fahrenheit 451 é também a temperatura de combustão do papel, acredita nisso? 

Até hoje quando me perguntavam qual era o meu livro preferido eu não sabia me posicionar, mas certamente agora tenho um e fico extremamente agradecida pelo conhecimento adquirido por mais essa obra da literatura. 

dicas

Filmes para repensar o sentido da vida - Parte 2

abril 15, 2020

Entramos na segunda parte sobre "filmes para repensar o sentido da vida", e hoje o filme a ser proposto nos leva para além da autocrítica:



THE HATE U GIVE (O ódio que você semeia)

Sinopse: Starr Carter é uma adolescente negra que presencia o assassinato de Khalil, seu melhor amigo, por um policial branco. Ela é forçada a testemunhar no tribunal por ser a única pessoa presente na cena do crime. Mesmo sofrendo uma série de chantagens, ela está disposta a dizer a verdade pela honra de seu amigo, custe o que custar.

Gênero: Drama/ Policial

Duração: 02h13min

Ano de lançamento: 2018



Starr Carter é uma garota de 16 anos que vive em um bairro da comunidade negra americana no Garden Heights, mas frequenta a Williamson Prep., uma escola privada predominante de pessoas brancas.

Depois que uma arma dispara em uma festa que está assistindo, a garota é levada para casa por seu melhor amigo de infância, Khalil. 

Enquanto dirigem para casa, eles são abordados por uma viatura policial por não sinalizar uma mudança de faixa. O oficial da polícia dá ordens para que Khalil abra a janela do carro e desligue a música do rádio. Com a discordância, o oficial grosseiramente instrui ao garoto que saia do carro. Do lado de fora, o policial solicita a carteira de motorista de Khalil e o inibi a não se mexer enquanto verifica sua identificação.

Khalil sem acreditar no que está acontecendo e tentando ao mesmo tempo tranquilizar a amiga, decide se mover e pegar uma escova de cabelo que infelizmente é vista pelo policial como uma arma, e em um rápido gatilho, o garoto é morto. 

O assassinato de Khalil se torna notícia nacional e como testemunha viva dos fatos, Starr é posta em uma rota sem saída. Ao mesmo tempo que sua identidade é mantida em segredo, ela precisa manter suas personalidades dívidas entre a escola e a comunidade para que a vida das pessoas ao seu redor não sofra ou sejam ameaçadas até que seja realizado o grande júri.

No entanto, o dilema aumenta quando a história passa ter outros rumos. Parte do seu núcleo de amigos possuem preconceitos e apoiam a postura do policial, enquanto seus vizinhos de bairro, passam a pressionar a garota para que mantenha viva a memória de Khalil e continue sua defesa contra a violência policial por todos os meios necessários.

THUG é um filme que deve ser assistido com calma e de peito aberto para poder captar a alta sensibilidade e o aspecto sensorial que é proposto.

A todo momento somos apresentados a diversas formas de preconceito e como ele é construído na sociedade independentemente do lado que é apresentado. 

Desde criança, Starr é colocada em situações condicionadas pelo próprio pai para saber quais são seus direitos legais e como ela deve reagir a abordagens policiais, que por sua vez ao ser questionado tem uma resposta aparentemente simples mas dolorosa: "Essas situações acontecerão porque você é negra e pessoas negras precisam ter o dobro de atenção".

Para se ter uma ideia, esse filme possui uma aprovação de 97% do Goten Tomatoes, sendo aclamado pela crítica com a excepcional adaptação e incrível performance da atriz Amandla Stenberg, a Rue de Jogos Vorazes.

Além do aspecto do racismo estrutural, o filme assim como o livro, leva em consideração as premissas da segregação cultural, violência policial, as falhas tentativas de melhoria do código legal, a existência do medo nas diferenças que é a causa do ódio no outro, a luta por uma voz maior e a intolerância.

Todas as cenas são destinadas a serem puras e realistas para que quem assiste seja levado aos mesmos picos de energia e possa compreender até onde a cultura do ódio está levando a sociedade em uma exagerada ferocidade.

Em outro ponto relevante, o filme explica que todos somos racistas, mas que as pessoas estereotipam a face do racismo às pessoas que praticam o racismo intencionalmente esquecendo que nascemos reproduzindo ações existentes na sociedade de geração em geração, e isso acontece justamente porque o indivíduo leva as falas para o campo individual quando não é.

Posso dizer que de dois um, ou você termina o filme querendo uma mudança imediata na vida das pessoas ao seu redor ou qualquer tipo de preconceito que você tenha começa a ser descontruído.


Para ler a parte 1, clique aqui!

Editora Intrínseca

Resenha: A Viúva

abril 13, 2020


Sinopse: Ao longo dos anos, Jean Taylor deixou de contar muitas coisas sobre o terrível crime que o marido era suspeito de ter cometido. Ela estava muito ocupada sendo a esposa perfeita, permanecendo ao lado do homem com quem casara enquanto convivia com os olhares acusadores e as ameaças anônimas. No entanto, após um acidente cheio de enigmas, o marido está morto, e Jean não precisa mais representar esse papel. Não há mais motivo para ficar calada. As pessoas querem ouvir o que ela tem a dizer, querem saber como era viver com aquele homem. E ela pode contar para eles que havia alguns segredos. Afinal, segredos são a matéria que contamina (ou preserva) todo casamento.


Autor (a): Fiona Barton
Editora: Intrínseca
Páginas: 304
Ano de Publicação: 2017


Jean era muito nova quando virou esposa. Glen não era do tipo romântico, os cortejos se davam principalmente no escuro e Jean queria estar com ele o tempo todo. 

Na época do namoro as escolhas como “não vá a lugares barulhentos" ou "apenas prove" era o jeito que achava para dizer "eu te amo". Ele era de todo modo calado quando o contrariava e Jean apenas não dizia nada para não o magoar e nem o decepcionar. Quando juntaram os trapos não houve pedido de casamento, Glen apenas disse que Jean pertencia a ele e que iriam se casar. Aferida a isto, ela preenchia a vida matrimonial sob seu departamento. Cuidava da casa, cozinhava e trabalhava em um salão de cabeleireiro, seu sonho era ser mãe. Glen era o marido amoroso, provedor, que determinava como ele e Jean deveriam viver, era quem podia ter opinião sobre as "ideias estimulantes".

Quando em 2006 Glen foi acusado e levado a corte suspeito de um crime inimaginável, os jornais inventaram um novo nome para ele: MONSTRO. Jean Taylor viu as estruturas de seu casamento começarem a ruir e com os anos passando sem que nenhuma prova fosse encontrada, a vida do casal seguia constantemente estampada nas primeiras páginas. 

Glen jurava que não tinha feito nada e Jean a todo momento prometia fidelidade e tinha o desejo de acreditar no marido, mas nas últimas semanas, a senhora Taylor nutria uma sensação obscura, não conseguia contar as vezes que passara as noites em claro desejando que Glen estivesse morto e fantasiava sobre o momento em que receberia a ligação de um policial.

“Sra. Taylor”, diria uma voz grave, “lamento muito, mas tenho más notícias.” A ansiedade pelo resto quase me fazia rir. “Sra. Taylor, temo que seu marido tenha falecido em decorrência de um acidente.” Então, eu me via — realmente me via — soluçando e pegando o telefone a fim de ligar para a mãe dele e contar. “Mary, lamento muito. Recebi uma notícia ruim. É sobre Glen. Ele está morto.”
Consigo perceber o choque ao ouvir seus arquejos. Posso sentir sua dor. Sentir a compaixão dos amigos pela minha perda, a família se reunindo ao meu redor. Depois a vibração secreta.
Eu, a viúva de luto. Ah, conta outra.

Agora que estava realmente viúva, a situação não parecia de modo algum real. Jean Taylor se tornara uma pessoa diferente, uma mulher reservada e protetora das memórias do marido acima de tudo. Jean não tinha mais nenhum obstáculo para bloquear quem realmente ela é. Em casamentos sempre existem segredos e destas guardou muitas coisas para si: foi a esposa perfeita com boa casa, ignorou as coisas estranhas que seu bom marido vazia no quarto de cima — os absurdos dele como ela mesma apelidou —, e vendou os olhos para outras sobre o crime ao qual o marido era suspeito e usava para contar a sua versão dos fatos. 

O terceiro dia da caçada a Bella havia terminado, e eles não tinham chegado a lugar algum.
[...] Sparkes tentou não pensar no que estaria acontecendo com Bella Elliot — ou, se quisesse ser sincero, no que já havia acontecido. Ele tinha que encontra-la.

Porém, não havia mais motivo para ficar calada. As pessoas queriam ouvi-la e saber como era viver com aquele homem que Glen havia se tornado, e nem ele poderia mais impedi-la afinal estava morto.  Faria uma cena com os jornalistas, mostraria a verdade e riria de tudo ao final. Era preciso falar o que ele tinha feito e ela contaria tudo o que sabe. Um marido amoroso ou um assassino cruel? Depois de vinte anos, só ela poderia dizer.



MINHA OPINIÃO


Narrado pelas perspectivas de Jean Taylor, a viúva, do detetive Bob Sparks, chefe de investigação, e da repórter Kate Waters, o livro nos leva ao retrato do casamento perfeito, de uma vida domesticada para além da verdadeira caçada ao suspeito que não há condenação e tem sua vida transformada em um verdadeiro inferno.

Dividido em capítulos aleatórios entre passado e presente, as investigações que percorrem quatro anos vão tomando proporções psicológicas monstruosas ao relatar o desaparecimento de uma criança de dois anos, pontuando representações críticas sob os aspectos jurídicos e legais para condução do crime, como também, a obsessão midiática em vender notícia apática a situação. 

É possível pautar que o maior ponto do livro é elevado quando escancara os perigos eminentes em acesso de dados, distribuição livre de pornografia e a acessibilidade de usuários em se instalar na vida de outro mascarado por segundas intenções.

A Viúva é um livro impecável e o tempo que se leva para digerir o conteúdo é grande, e muitos leitores são falhos ao determinar que a leveza no ritmo é entediante. Pelo contrário, a leveza nos traz o frenesi constante para entender o que diabos está acontecendo, qual foi o crime e quem é o louco da história. 

O livro é considerado pela Publisher Weekly como "um romance de estreia excepcional", que ganhou destaque mundial na cobertura do caso Madeleine McCann, a menina inglesa desparecida em Portugal, em 2007.

Super recomendável para quem já leu A garota no trem e Garota exemplar.


LEITURA ATUAL

FAVORITO DO MÊS

@GRAZIELLASILVAO